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Segurança

Mozilla e Onerep: O Fim da Parceria que Expõe a Crise da Indústria de Privacidade

Publicado em29 de nov. de 2025

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O Paradoxo da Privacidade Paga: Quando o Guardião é o Caçador

Na crescente economia da privacidade digital, uma pergunta incômoda paira sobre o mercado: podemos confiar em serviços que prometem nos proteger de uma indústria da qual seus próprios criadores já fizeram parte? O recente e conturbado desfecho da parceria entre a Mozilla, defensora do software de código aberto, e a Onerep, uma empresa de remoção de dados pessoais, oferece uma resposta contundente e profundamente preocupante. A aliança, que prometia aos usuários do Firefox uma forma de apagar seus rastros da internet, implodiu sob o peso de revelações que expõem um conflito de interesses fundamental no coração da indústria de proteção de dados.

A saga culminou com o anúncio de que o serviço Mozilla Monitor Plus, que integrava a tecnologia da Onerep para automatizar a remoção de informações de centenas de sites de people-search (buscadores de pessoas), será descontinuado. Este não é apenas o fim de um produto; é o clímax de uma crise de confiança que se arrastou por mais de um ano, forçando uma das marcas mais associadas à privacidade na web a confrontar a natureza dúbia de um parceiro estratégico. Na prática, a Mozilla descobriu-se aliada a uma entidade cujas raízes estavam fincadas precisamente no terreno do qual prometia resgatar seus usuários.

A origem do problema remonta a uma investigação de março de 2024, que trouxe à tona o passado e o presente de Dimitiri Shelest, o fundador e CEO da Onerep. Foi revelado que Shelest não era apenas um combatente na guerra contra os data brokers; ele havia sido um de seus arquitetos. Desde 2010, ele esteve envolvido na criação de dezenas de serviços de busca de pessoas. Mais alarmante ainda foi a descoberta de que ele mantinha uma participação acionária e um papel ativo em pelo menos um desses serviços: o Nuwber, um data broker que vende relatórios detalhados sobre indivíduos, fundado por ele em 2015, aproximadamente na mesma época em que lançou a Onerep. A ironia é palpável: um homem lucrava com a venda de dados pessoais através de uma empresa, enquanto outra, sob sua mesma liderança, vendia a solução para remover esses mesmos dados.

Um Rompimento Tardio e as Lições de Confiança

A reação inicial da Mozilla à controvérsia foi de anunciar um encerramento da colaboração. No entanto, a parceria persistiu por mais dezesseis meses, com o serviço Monitor Plus continuando a ser promovido aos usuários do Firefox. Somente agora a empresa formalizou o fim definitivo do laço, marcando o dia 17 de dezembro de 2025 como a data final de acesso para os assinantes atuais. Após esse período, os usuários receberão um reembolso proporcional pelo tempo restante de suas assinaturas. A justificativa oficial da Mozilla para a decisão lança luz sobre as dificuldades inerentes a este mercado.

"Exploramos várias opções para manter o Monitor Plus funcionando, mas nossos altos padrões para fornecedores e as realidades do ecossistema de data brokers tornaram desafiador entregar consistentemente o nível de valor e confiabilidade que esperamos para nossos usuários."

Esta declaração, embora diplomaticamente formulada, é uma admissão tácita de que o problema pode ser maior do que um único fornecedor duvidoso. Ela sugere que o próprio ecossistema de data brokers é tão opaco e eticamente comprometido que encontrar um parceiro verdadeiramente alinhado com os valores de privacidade da Mozilla se tornou uma tarefa quase impossível. A demora em cortar os laços levanta questões críticas sobre o processo de due diligence da organização. Como uma empresa cujo principal capital é a confiança de seus usuários pôde se associar a uma figura com um histórico tão conflitante? Este episódio serve como um estudo de caso brutal sobre os riscos reputacionais que empresas de tecnologia enfrentam ao terceirizar funções críticas de segurança e privacidade.

O incidente força uma reflexão mais ampla sobre a viabilidade do próprio modelo de privacidade como serviço. Muitas dessas empresas de remoção de dados operam em uma zona cinzenta, onde a expertise necessária para combater os data brokers muitas vezes vem de uma familiaridade íntima — e por vezes, pregressa — com suas táticas. O consumidor fica em uma posição vulnerável, pagando a uma empresa para protegê-lo de um problema que, em alguns casos, é perpetuado por entidades com as quais essa mesma empresa tem ou teve ligações. É um ciclo que se beneficia da complexidade e da falta de transparência, transformando o direito fundamental à privacidade em um produto de assinatura mensal.

Vale destacar que a alternativa, a remoção manual, é um esforço hercúleo, muitas vezes projetado para ser frustrante. Os data brokers, em sua maioria, não têm incentivo para facilitar a saída de um indivíduo de seus bancos de dados. O processo frequentemente envolve:

  • Navegar por interfaces confusas e dark patterns projetados para desencorajar o usuário.
  • Preencher formulários complexos e, por vezes, fornecer ainda mais dados pessoais para verificar a identidade.
  • Lidar com a reaparição de dados em sites diferentes ou mesmo no mesmo site após um curto período.
  • Monitorar centenas de sites, um trabalho que, para muitos, seria o equivalente a um emprego em tempo integral.

É nesse cenário de dificuldade que serviços como Onerep, DeleteMe e Incogni prosperam, oferecendo uma solução automatizada para um problema deliberadamente complicado. O caso da Mozilla, no entanto, demonstra que a conveniência pode vir com um custo oculto: a incerteza sobre quem realmente está do outro lado da transação.

Com o fim do Monitor Plus, a Mozilla afirma que irá se concentrar em fortalecer as ferramentas de segurança gratuitas já integradas ao navegador Firefox, como o gerenciador de senhas que alerta sobre violações de dados (o serviço gratuito Monitor) e sua VPN. É um retorno às origens, um recuo estratégico para um terreno mais seguro, onde a empresa tem controle total sobre a tecnologia e a ética por trás de seus produtos. Para os usuários, a lição é clara: na busca pela privacidade digital, a vigilância sobre quem contratamos para nos proteger é tão crucial quanto a vigilância sobre quem tenta nos explorar. A fronteira entre os dois, como este caso demonstrou, é perigosamente tênue.

Rodrigo Tavares

Rodrigo Tavares

Especialista em Segurança Cibernética

Rodrigo Tavares trabalha com segurança digital, ajudando a proteger infraestruturas críticas e garantindo que dados e serviços permaneçam seguros.

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